quarta-feira, 28 de março de 2007

doces

minhas palavras não são doces
as que eram
fermentaram
bebi;
minhas palavras não são tristes
as que eram
se revoltaram
perdi;
minhas palavras não são belas
as que eram
enrugaram
ri;
minhas palavras não são minhas
as que eram
...
vivi!

sábado, 24 de março de 2007

terminal


que ótimo, agora tu também vais encolher
a imagem
tremer
meu monitor, que lindo
te compreendi quando
desde há um ano
começaste com tuas viagens cromáticas
primeiro verde
azul
e... vermelho
onde está o vermelho?
no começo uns tapinhas resolviam
voltavas pro teu normal
ou
pra como te espero
mas com o tempo decaístes
e se há pouco levavas porradas pra te arrumar
agora
tu tremes e te encolhe no mínimo toque?
oh
serei eu o culpado por teus males?
não te ouvi o bastante?
ah
não me faça destas,
monitor
sabes qual será teu destino não sabes?
sabes que minha lealdade a ti é muito frágil
e
confesso
teus ultimos ataques
de tremer e encolher
não me causaram simpatia
pois é bem agora, que preciso de ti
que tu te acovardas?
quer me fazer esquecer das cores
e formas
do mundo?
quer fazer-me ao teu modo
tuas cores, teu tudo?
apunhale-me agora
tal qual brutus
sim
até tu
mas não espere que terei compaixão
pelos anos de dedicação
não verás em mim
nenuma
nenhuma comiseração por seu estado terminal
nada farei
que definhe!
tu
que me destes as costas logo agora
que vá!
pois ficarei
muito bem
sem ti
se assim for

terça-feira, 6 de março de 2007

a dívida

há uma dívida
que eu pretendo cobrar
de todos os tipos de patifes
vermes e estúpidos
que me roubam a cada dia
o lirismo do olhar
cortam-me a garganta
silenciam
minha capacidade de pensar
para além dessa parede
e de números, de valores
de mentiras
que embaralham minhas sensações
tornam-me estúpido
alimentam meus sentidos mais banais
fazem de mim subproduto
de capacidades limitadas
que me seguram pelos braços
e pernas
e principalmente pelo estômago
tomem, seres medíocres!
esbaldem-se com meu rancor
que tanto cultivaram
com dedicação inigualável
logo, logo ocorrerá
que retornarei de vossos ventres
em polimorfos registros incandescentes
e de mim, só fumaça sobrará
nesses teus pulmões a respirar
e te dominarei
e te farei tão mal
pois a divida que eu pretendo cobrar
é o preço dos olhos secos pelo sol
cujo olhar tão desbotado não vê os tons
que fariam da vida mais amena
dos ouvidos surdos
para os sons mais delicados
atordoados que estão
por ruídos ininterruptos
do paladar já viciado
ao doce que encobre a vida
de satisfações compensatórias
e ao sal que nos faz crer
que há mais lá do que o que lá está
do tato já dormente
anestesiado pelo cansaço
anulado pelo desejo de anulação
do olfato há tanto perdido
incapaz de diferenciar
os odores mais delicados
parecem todos iguais ou diferentes
ou atrarem ou repelem
dos sentimentos mais ternos desprezados
pisados, ridicularizados, esquecidos
que nem sequer mais os ouço
dilacerados que foram pela ânsia
da superação de um estado indesejado
dos prazeres mais humildes esquecidos
em nome de ridículos
prazeres orgiásticos
que corrompem a existência
e a fazem função de uma ilusão
dos pensamentos atrofiados
pelas imagens e sons que pulam
e gritam, berram, se movem, te encostam
te engolem, mastigam, vomitam e comem
e quando tento balbuciar uma idéia
repito mimeticamente tuas ordens
de parecer ridículo, reproduzindo o óbvio
então, por tudo e muito mais
há uma dívida que eu pretendo cobrar
uma dívida de vida
há uma vida que eu pretendo cobrar
de todos os seres que me reduzem a pó
mas que hão de me pagar
uma hora
num lugar
ainda que daqui a muito
ainda que daqui de muito longe
hão todos de me pagar