quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um elton judeu

Na semana passada, vi um homem esterilizar um pedaço de ferro na chama de uma lamparina. Em seguida, enfiou o ferro em meus olhos - sim, nos dois. Minutos antes, este homem me perguntou se eu era judeu. Não esqueço aquele olhar inexpugnável. Não sou. Releu a ficha, voltou com o mesmo olhar. É Zimmermann. Judeu. Só pode ser judeu. Mas isso ele disse com os olhos - os dele. Um pouco antes disso eu lia Philip Roth, judeu, contando a história de um jovem judeu que tenta fazer as coisas direito, mas só toma no olho - naquele. O oftalmologista deve ter sentido algum prazer em furar os olhos desse judeu envergonhado, travestido de gói, judeu sem bar-mitsva, sem pessach, e, glória a deus, não circuncidado. Resolveu fazer em mim um Dia do Perdão involuntário no mundo sem autoclave. Quase capotei com a anestesia. Teto preto, teto preto. Ufa, voltei. O sujeito não botou muita fé nesse judeu infiel. Respira fundo que passa. Saí babando com os olhos furados e o taxista carioca teve tempo de me contar três histórias de doença nuns 56 palavrões. Puta merda, que dia judeu. Passou. Ontem fiz lentilhas. Com costelinhas de porco, não exatamente kosher. Acho que não dou certo como judeu. Uma pena, estava começando a gostar da ideia. Pelo menos os olhos parece que estão bem.