terça-feira, 23 de novembro de 2010
Os meus amigos
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Terra, de Sebastião Salgado
Serra Pelada, Pará, 1986
Ainda não consegui aceitar que as gerações mais recentes que a minha, que é apática, sejam conservadoras. Se com 16, 17 anos, a vida inteira por fazer, uma pessoa não anseia por justiça, o que ela vai querer aos 40, com emprego, casa, carro e filhos? Por que o argumento dilma-não-pois-queremos-igualdade perde tão feio, entre os jovens, para o dilma-não-pois-é-bandida-terrorista? Quando isso acontece, estou muito perto de dizer que todos os anos de ensino de história falharam. Pois tanto bláblábá deveria servir, no mínimo, pra que as pessoas saibam que cada acontecimento histórico só faz sentido dentro de seu contexto.
Sergipe, 1996
Sergipe, 1996
Pra pisar fundo nesse sentimento de degenerescência temporal - que, espero, esteja errado - vai um video da época do lançamento do livro. O bufão Jô Soares entrevistando numa só noite, de uma só vez, um ao lado do outro, o Sebastião Salgado, o José Saramago e o Chico Buarque de Holanda. Convido quem não entendeu a piada a conferir os programas atuais do entrevistador.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Um sonho
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Pervinha
terça-feira, 18 de maio de 2010
De quando me descobri morto - Ato único
sexta-feira, 5 de março de 2010
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
A Carta
Passei muito tempo da minha pouca vida fazendo muitas coisas que se revelaram poucas. Tudo que ganhei foi um sentimento de vastidão desabitada.
À sua frente, eu o devorava. Seus olhos amarelos, a pele gasta, aquelas palavras que pareciam falsas de tão sinceras. Nada nele me parecia fortuito. Por isso, silenciava.
Agora, no crepúsculo da minha existência, quando é ridícula a própria idéia de mudar o destino, sinto-me como alguém que acordou tendo uma só tarefa para o dia mas que, ao levantar as pernas cansadas e deitar a cabeça ao travesseiro à noite, dá-se conta de que só não fez aquilo que devia, aquilo que queria.
Acabaram os miolos, eram já todos bolinhas. O velho pareceu dar-se conta de que, se não emendasse logo um desfecho, seu desabafo pareceria esconder algum ensinamento moral e ensinamentos morais, àquela hora da vida, era tudo o que mais queria que não existissem. Apontou agora seus olhos para os meus, que quiseram fugir das órbitas com a violência do olhar.
E você, filho da puta, um dia vai perceber a mesma coisa. Reconheço um cagado no mundo no escuro. Somos uma irmandade. Espero que não demore pra descobrir que se existe um sentido nisso tudo, ele deve estar amortecido pelo álcool e outros vícios.
Continuei ali, vendo o desespero e a solidão do velho. Ele continuou falando. Passou a vida lutando contra o silêncio e agora sofria por ter descoberto que perderia. Ali aprendi a calar-me. Lá se foram cinquenta anos de serena sobriedade. Hoje, no crepúsculo da minha existência, sufoca-me este sentimento de superpovoamento, de carregar no peito, o mundo. Não quero levar para o túmulo o peso das possibilidades. Por isso escrevo esta carta para ninguém, pois ninguém merece lê-la.