A imagem da serenidade pra mim é um copo de café-com-leite. Café-com-leite quente, mas não pelando, cheio até a borda no copo de requeijão ou americano. Bastante açúcar, nem muito claro, nem muito escuro. Café-com-leite às cinco e meia da tarde, sem pressa, mas sem preguiça e sem cansaço. Nada de cappuccino, nem espresso corto nem cem-por-cento arábica. Café do mercado do bairro, o que estiver em conta, e leite de pacotinho, tipo C. Solúvel, nem pensar. Sob o sol ainda firme se for verão, sob o laranjal do lusco-fusco se for primavera, sob o céu cor de cimento se for outono, sob a penumbra do frio se for inverno. Acompanhado de pão com margarina e só, sem modéstia, sem pretensão. O café-com-leite de quem vai vivendo, sem buscar novos sabores, sem sofrer pelo que não pode, sem querer o que não conhece. Quando eu flerto com o cotidiano e miro na vizinhança uma pessoa tomando assim no fim da tarde o seu café-com-leite, sem fazer dele uma refeição faustosa, sem também por isso deixar de tomá-lo, alimentando-se porque é animal, de café-com-leite porque é cultural, sinto-me contagiado pela tranquilidade. Sim, pois num mundo que não é nem anterior nem posterior à cafeína e à tecnologia nutricional, mas que corre alheio a estas, como que no seu fusca velho mas original e que não sente a menor vontade de olhar para o lado quando para no sinal pra ver o carro que lá está; nesse mundo que não tem respostas porque não faz perguntas, o café-com-leite pode ter uma agradável ação ansiolítica.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
O café-com-leite que tranquiliza
A imagem da serenidade pra mim é um copo de café-com-leite. Café-com-leite quente, mas não pelando, cheio até a borda no copo de requeijão ou americano. Bastante açúcar, nem muito claro, nem muito escuro. Café-com-leite às cinco e meia da tarde, sem pressa, mas sem preguiça e sem cansaço. Nada de cappuccino, nem espresso corto nem cem-por-cento arábica. Café do mercado do bairro, o que estiver em conta, e leite de pacotinho, tipo C. Solúvel, nem pensar. Sob o sol ainda firme se for verão, sob o laranjal do lusco-fusco se for primavera, sob o céu cor de cimento se for outono, sob a penumbra do frio se for inverno. Acompanhado de pão com margarina e só, sem modéstia, sem pretensão. O café-com-leite de quem vai vivendo, sem buscar novos sabores, sem sofrer pelo que não pode, sem querer o que não conhece. Quando eu flerto com o cotidiano e miro na vizinhança uma pessoa tomando assim no fim da tarde o seu café-com-leite, sem fazer dele uma refeição faustosa, sem também por isso deixar de tomá-lo, alimentando-se porque é animal, de café-com-leite porque é cultural, sinto-me contagiado pela tranquilidade. Sim, pois num mundo que não é nem anterior nem posterior à cafeína e à tecnologia nutricional, mas que corre alheio a estas, como que no seu fusca velho mas original e que não sente a menor vontade de olhar para o lado quando para no sinal pra ver o carro que lá está; nesse mundo que não tem respostas porque não faz perguntas, o café-com-leite pode ter uma agradável ação ansiolítica.
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Discurso sobre a estupidez voluntária
A pior parte de fazer promessas é ter de cumpri-las. Nisso gostaria de ser como o meu avô, que prometia os céus, quando muitas vezes não podia dar sequer um pedacinho aqui da terra. Não fazia por maldade. Seu desejo de presentear, de ajudar, era sincero. Gosto de acreditar que ele prometia pelo prazer de ver a felicidade nos olhos das pessoas por quem tanto carinho nutria. Este dom, o de conseguir fazer a promessa ser mais importante e mais efetiva que a realização, porém, é para poucos. Ainda não sou capaz de dizer se o tenho. Talvez sim, talvez não. O fato é que após quase dois meses de uma promessa de reformulação do blog, não estou me sentindo satisfeito nem vendo alegria nos olhos das poucas mas valiosas pessoas que por isso ficaram esperando. Sinto-me constrangido, isso sim.
disciplina que jamais tive. Esse jamais é jamaaaaais, nuuuuuunca. Isso é um desafio, um belo desafio. O terceiro e talvez maior macaco gordo sobre as minhas costas é uma coisa bem simples. A constatação de que a imagem que tenho de blogueiros, principalmente os de sucesso, é a de grandes imbecis, fenômenos da era midiática no que ela tem de pior (pois quero crer que ela tem algo de “melhor”), o culto à nulidade. Parecem-me, basicamente, antas antenadas que escrevem sem pensar. Esse medo é diferente do tal senso de ridículo pois não diz respeito a fazer algo mal, justo o contrário, é um medo de fazer muito bem algo que me desagrada.
quarta-feira, 16 de maio de 2007
Projetos
No entanto, ao invés de fechar as portas, botar as cadeiras viradas viradas sobre as mesas, desligar a música e esperar sentado e com sono que os últimos clientes – bêbados demais para se sentirem constrangidos – saiam do recinto, tenho pensado em transformar esse espaço num empreendimento mais rentável, do ponto de vista da minha satisfação com sua manutenção. Trocar o piso, lavar as cortinas, sujar os móveis e, é claro, derrubar algumas paredes, deixando o ambiente mais agradável e a comunicação com o mundo de fora mais intensa.
Não vou negar, o que me fez ter essas idéias foi uma passeada pela assim chamada “blogosfera”, termo que me causa arrépios – assim, com o acento no e. Pra começar, entre os 20 blogs melhor ranqueados no Brasil, algo como 15 – ok, posititivas, eu não contei, estou chutando – versam sobre tecnologia, internet, mundo geek, cibernáutica e congêneres. Calma! Não vou começar a postar sobre as novidades do mercado de microprocessadores ou sobre as últimas aquisições do Google. Na verdade, é exatamente o contrário. Nada contra, mas no nosso canto mudam-se as cores das paredes, o estofado das cadeiras e (até mesmo, vejam só) a marca da cerveja, mas na música ninguém toca, se me permitem a infame piadinha.
Sim, sim, sim. Continuaremos fazendo por aqui o caminho rock - indie rock - indie pop – pop. Evidentemente mais na inspiração do que nos temas, pois, é claro, enquanto a música toca, não precisamos conversar apenas sobre ela. E a proposta é exatamente essa: conversar. Chega de monólogo. Nada de pedestais, torres de marfim ou, mais adequadamente, nada de bolhas. Minha idéia é básica e primordial: angariar interlocutores. Pessoas que falam, balbuciam, gesticulam ou mesmo que esperneiem batendo as mãos contra a mesa, os pés contra o chão.
É assim. As idéias de mudanças aqui descritas acompanham as mudanças das minhas idéias. Deixamos a revolução, entramos na hibridação, na mistura, na, algo aparente, (con)fusão. E percebam só as permanências: contino com essa maldita linguagem vaga, que apenas prediz. Muitos sabem, pra mim a escrita não deve ser conclusiva e “mensagista” e sim aberta e vetorial. De qualquer forma, essa pequena invernada me fez perceber que a qualidade textual não é nem está perto de ser o primeiro requisito para o sucesso de um blog, muito embora alguns proponham para si tal virtude e outros, poucos, realmente a tenham. Porém, a idéia de que “não importa o chop, o que importa é que aqui ele é servido nas melhores canecas” também não me agrada, tampouco a idéia de ser visto para ser lembrado. Desafios.
No frigir dos ovos, não estou criticando meus leitores, que com seu eventual sepulcral silêncio me dão a sensação de conforto. Ando pelado pelo blog. As mudanças que virão, ainda não as revelo. Talvez por não as ter já prontas, talvez por ainda não estar decidido a fazê-las. Afinal, como tem sido desde o ínicio, nada acontecerá se este post for mais um exercício público de linguagem, organização de idéias ou diletantismo puro, não é verdade? No entanto, a esse respeito não posso fazer muito mais que torcer.