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segunda-feira, 8 de junho de 2009

O café-com-leite que tranquiliza


A imagem da serenidade pra mim é um copo de café-com-leite. Café-com-leite quente, mas não pelando, cheio até a borda no copo de requeijão ou americano. Bastante açúcar, nem muito claro, nem muito escuro. Café-com-leite às cinco e meia da tarde, sem pressa, mas sem preguiça e sem cansaço. Nada de cappuccino, nem espresso corto nem cem-por-cento arábica. Café do mercado do bairro, o que estiver em conta, e leite de pacotinho, tipo C. Solúvel, nem pensar. Sob o sol ainda firme se for verão, sob o laranjal do lusco-fusco se for primavera, sob o céu cor de cimento se for outono, sob a penumbra do frio se for inverno. Acompanhado de pão com margarina e só, sem modéstia, sem pretensão. O café-com-leite de quem vai vivendo, sem buscar novos sabores, sem sofrer pelo que não pode, sem querer o que não conhece. Quando eu flerto com o cotidiano e miro na vizinhança uma pessoa tomando assim no fim da tarde o seu café-com-leite, sem fazer dele uma refeição faustosa, sem também por isso deixar de tomá-lo, alimentando-se porque é animal, de café-com-leite porque é cultural, sinto-me contagiado pela tranquilidade. Sim, pois num mundo que não é nem anterior nem posterior à cafeína e à tecnologia nutricional, mas que corre alheio a estas, como que no seu fusca velho mas original e que não sente a menor vontade de olhar para o lado quando para no sinal pra ver o carro que lá está; nesse mundo que não tem respostas porque não faz perguntas, o café-com-leite pode ter uma agradável ação ansiolítica.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Queira, por favor, ter a bondade de só ler este texto assaz longo após ter lido o anterior, sobre o nobre Carlos.

* * *

Discurso sobre a estupidez voluntária

A pior parte de fazer promessas é ter de cumpri-las. Nisso gostaria de ser como o meu avô, que prometia os céus, quando muitas vezes não podia dar sequer um pedacinho aqui da terra. Não fazia por maldade. Seu desejo de presentear, de ajudar, era sincero. Gosto de acreditar que ele prometia pelo prazer de ver a felicidade nos olhos das pessoas por quem tanto carinho nutria. Este dom, o de conseguir fazer a promessa ser mais importante e mais efetiva que a realização, porém, é para poucos. Ainda não sou capaz de dizer se o tenho. Talvez sim, talvez não. O fato é que após quase dois meses de uma promessa de reformulação do blog, não estou me sentindo satisfeito nem vendo alegria nos olhos das poucas mas valiosas pessoas que por isso ficaram esperando. Sinto-me constrangido, isso sim.

Ok, vamos lá. Abramos a caixa de pandora e deixemos que todos os males que ocupam esta pobre alma que escreve vagueiem mundo afora. Ocasionalmente, logo advirto, algum deles poderão atingir ao leitor. Nada, porém, acontecerá de muito grave. Coleciono tormentos a vida toda e nem por isso me tornei um ser abominável (é, se você me tem como um ser abominável, não continue lendo). Talvez expostas as minhas inquietações possamos fazer uma operação de exorcismo amador, ou quem sabe uma sessão de terapia do abraço, que me permita enfim levar adiante esse projetinho virtual.

Em primeiro lugar, havia decidido parar completamente de publicar aqui textos ficcionais, mini-contos, ensaínhos, frescurinhas e qui-qui-qui. O motivo, dito em bom português brasileiro, é que eles são ruins. Tudo bem, sei que muitos dirão o contrário, que são bons, que devo continuar escrevendo e outras mil frases de incentivo. Ora, todos os que passam por aqui são amigos ou parentes. Irão me aplaudir mesmo se eu dançar meu-pintinho-amarelinho de cueca. Acontece que, pelo menos nesse momento, eu não levo jeito pra coisa. Posso até dominar razoavelmente a língua. Posso até ter uma imaginação engraçadinha. Mas no fim das contas, não tenho conseguido juntar ambas as coisas numa produção interessante. Também pudera, um cara totalmente negligente com esse tipo de literatura não poderia dar um grande escritor. Mas, aviso, sequem suas lágrimas. Isso é temporário (farei uma oficina de composição de textos ficcionais – nas férias).

Isso tudo não vale para as poesias. Pela simples razão de achar que “poesia” é uma categoria residual onde ainda há muito espaço para a inspiração e a liberdade de criação. Claro, há aqueles que também têm a poesia como uma ciência exata, inútil se incapaz de ser mensurada numa escala de qualidade. Esse tipo de gente há pra tudo no mundo. Entre no Google e procure sobre a melhor maneira de apertar as teclas do telefone. Provavelmente haverá, em algum lugar desse vasto mundinho, um debate refinadíssimo, cheio de protuberâncias e reentrâncias, sobre o assunto. Deixem-nos lá com suas definições e deixem-me cá com minha representação ainda que naïf de poesia. Isso era o segundo lugar.

Deixando de lado as coisas já existentes, discutamos bem rapidinho as prospecções para o futuro (com toda sua redundância). Eu tinha planejado começar a postar aqui coisas mais afinadas com o que se pensa hoje sobre “blog”. Antes que eu me esqueça, esse é o terceiro lugar. Pensava em escrever ensaios de opinião sobre coisas “que estão aí”, debates públicos sobre temas variados, indo de cultura política a política cultural. Essa é uma coisa que eu sempre fiz em todo lugar, tendo me rendido inclusive o prêmio nunca revelado de o chato dos bares. É, falar de problemas raciais ou de filmes espanhóis quando todos querem falar sobre suas aventuras no puteiro não garante uma boa imagem (apesar da freqüente proximidade entre os dois últimos). De qualquer forma, como este blog é algo que está a disposição e pode ser visitado espontaneamente a qualquer momento, inclusive quando não se está bêbado, acredito que possa ser uma boa válvula de escape escrever sobre essas coisas aqui. De repente até começo a falar de futebol nas noites de sábado.

Em quarto lugar está outra coisa que gostaria muito de fazer. Essa, porém, não está diretamente ligada a uma marca de formação “profissional”, como a anterior. Está mais relacionada a um traço da minha formação pessoal. Muitos sabem do meu gosto por música. Já postei, inclusive, algumas letras de músicas e comentários a respeito. Tinha em mente aprofundar essas investidas, apresentando bandas, discos e músicas que, acredito, não são conhecidas por todos os que por aqui passam. Também havia pensado em fazer algo parecido com cinema. Aviso, porém, que não sou cinéfilo. Não me concentraria em filmografias nem em aspectos técnicos das obras. Meu interesse era mais fazer “leituras comentadas” sobre alguns filmes que me despertassem interesse.

Passemos agora aos grandes impasses. Apesar de as idéias aqui apresentadas não serem nem um pouco originais, pelo contrário, são apenas a aproximação com um modelo já convencional de se fazer um blog – inspiradas mesmo na observação “de campo” – elas são pra mim de difícil execução. Primeiro, elas atingem mortalmente um senso de ridículo “sempre alerta” que mora em mim. Esse senso de ridículo é mau-humorado, neurótico e perfeccionista. Reage com violência a “grandes idéias” e é extremamente cioso de sua imagem. Detesta fazer mal qualquer coisa que alguém, em algum lugar do mundo, faça bem. É, em suma, um chato. A minha felicidade é que ele é também alcoólatra e algo fanfarrão, distrai-se com coisinhas para brincar. Assim, o primeiro movimento que devo fazer para executar essas simplórias idéias é o de alimentar os vícios desse pedaço de mim que surgiu como o dividendo da adolescência. Farei isso, farei. Segundo, a aplicação das idéias exigirá de mim uma

disciplina que jamais tive. Esse jamais é jamaaaaais, nuuuuuunca. Isso é um desafio, um belo desafio. O terceiro e talvez maior macaco gordo sobre as minhas costas é uma coisa bem simples. A constatação de que a imagem que tenho de blogueiros, principalmente os de sucesso, é a de grandes imbecis, fenômenos da era midiática no que ela tem de pior (pois quero crer que ela tem algo de “melhor”), o culto à nulidade. Parecem-me, basicamente, antas antenadas que escrevem sem pensar. Esse medo é diferente do tal senso de ridículo pois não diz respeito a fazer algo mal, justo o contrário, é um medo de fazer muito bem algo que me desagrada.

Então, como esse texto se auto-destruirá em 300 caracteres, deixo por aqui minhas angústias. Prometo que é a última vez que prometo a mim mesmo que jamais voltarei a escrever sobre mim no blog. Não sei se o farei. Peço, por fim, a você, querido leitor ou leitora, que me acompanhou até aqui, que torça, ore, reze, peça a são mindinho, para que eu entorpeça esse monstrinho que me poda, que eu consiga me disciplinar e que, se invevitável for que eu me torne mais uma anta midiática, que ao menos eu não perceba isso antes do tempo de escrever meia dúzia de palavras. No fim das contas, continuamos no vale fértil das promessas. =)

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Projetos

Nos últimos dias, devido à mudança repentina, embora esperada, da minha rotina que por sua vez é o prelúdio de uma vindoura mudança ainda maior, e ainda mais esperada, tenho pensado muito sobre o blog. O fato de o último post não ter rendido comentário algum, muito embora eu o tenha pensado como uma bela sacada, a la Romário, associado ao fato de eu não ter controle algum sobre a frequência das visitas, me dão a impressão de que este blog, como todos os meus outros lances geniais, está morrendo antes de nascer. Se fosse o caso só lamentaria a triste perda para a humanidade.

No entanto, ao invés de fechar as portas, botar as cadeiras viradas viradas sobre as mesas, desligar a música e esperar sentado e com sono que os últimos clientes – bêbados demais para se sentirem constrangidos – saiam do recinto, tenho pensado em transformar esse espaço num empreendimento mais rentável, do ponto de vista da minha satisfação com sua manutenção. Trocar o piso, lavar as cortinas, sujar os móveis e, é claro, derrubar algumas paredes, deixando o ambiente mais agradável e a comunicação com o mundo de fora mais intensa.

Não vou negar, o que me fez ter essas idéias foi uma passeada pela assim chamada “blogosfera”, termo que me causa arrépios – assim, com o acento no e. Pra começar, entre os 20 blogs melhor ranqueados no Brasil, algo como 15 – ok, posititivas, eu não contei, estou chutando – versam sobre tecnologia, internet, mundo geek, cibernáutica e congêneres. Calma! Não vou começar a postar sobre as novidades do mercado de microprocessadores ou sobre as últimas aquisições do Google. Na verdade, é exatamente o contrário. Nada contra, mas no nosso canto mudam-se as cores das paredes, o estofado das cadeiras e (até mesmo, vejam só) a marca da cerveja, mas na música ninguém toca, se me permitem a infame piadinha.

Sim, sim, sim. Continuaremos fazendo por aqui o caminho rock - indie rock - indie pop – pop. Evidentemente mais na inspiração do que nos temas, pois, é claro, enquanto a música toca, não precisamos conversar apenas sobre ela. E a proposta é exatamente essa: conversar. Chega de monólogo. Nada de pedestais, torres de marfim ou, mais adequadamente, nada de bolhas. Minha idéia é básica e primordial: angariar interlocutores. Pessoas que falam, balbuciam, gesticulam ou mesmo que esperneiem batendo as mãos contra a mesa, os pés contra o chão.

É assim. As idéias de mudanças aqui descritas acompanham as mudanças das minhas idéias. Deixamos a revolução, entramos na hibridação, na mistura, na, algo aparente, (con)fusão. E percebam só as permanências: contino com essa maldita linguagem vaga, que apenas prediz. Muitos sabem, pra mim a escrita não deve ser conclusiva e “mensagista” e sim aberta e vetorial. De qualquer forma, essa pequena invernada me fez perceber que a qualidade textual não é nem está perto de ser o primeiro requisito para o sucesso de um blog, muito embora alguns proponham para si tal virtude e outros, poucos, realmente a tenham. Porém, a idéia de que “não importa o chop, o que importa é que aqui ele é servido nas melhores canecas” também não me agrada, tampouco a idéia de ser visto para ser lembrado. Desafios.

No frigir dos ovos, não estou criticando meus leitores, que com seu eventual sepulcral silêncio me dão a sensação de conforto. Ando pelado pelo blog. As mudanças que virão, ainda não as revelo. Talvez por não as ter já prontas, talvez por ainda não estar decidido a fazê-las. Afinal, como tem sido desde o ínicio, nada acontecerá se este post for mais um exercício público de linguagem, organização de idéias ou diletantismo puro, não é verdade? No entanto, a esse respeito não posso fazer muito mais que torcer.