quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A ruína de uma civilização

Tive um sonho interessante um tempo atrás.

Estavamos, eu e uma pessoa, em pé num lugar indefinido. Essa pessoa me falava, com muita persistência. "Você tem que fazê-lo, senão eu o farei. Você tem que fazê-lo, senão eu o farei." Em seguida chegava uma pessoa com uma arma e atirava em mim. O que eu tinha que fazer, que a pessoa tanto insistia, era atirar nessa pessoa antes de ela atirar em mim. Se eu não atirasse, a pessoa que estava ao meu lado atiraria. E tudo se passava assim, no pretérito imperfeito. Acontecia e se repetia, mas não da mesma forma. Após o tiro disparado, voltávamos ao inicio do diálogo. Algumas vezes eu até tentava atirar, mas ou errava o tiro, ou não conseguia apertar o gatilho. Na maioria, no entanto, eu apenas me recusava. Enquanto isso acontecia, uma frase ecoava em minha mente, ao fundo, como um narrador de filme bem ao estilo Dogville, dizendo "A ruína de uma civilização". Eu me recusava atirar pois para mim era inadmissível atirar em uma pessoa que eu sequer conhecia, mesmo que esta pessoa estivesse prestes a fazê-lo contra mim. Aquilo seria negar a tradição segundo a qual, pelo menos supostamente, criou-se nossa sociedade. Toda sociedade tem seus princípios, e o da nossa, ou pelo menos o da minha, é o da compreensão e o do diálogo. Atirar seria destruir com as próprias mãos um pedaço desse ideal. Deixar-se atingir seria permitir que também outro pedaço desse ideal fosse destruído. Eu sentia vontade de falar às pessoas. Sentia vontade de gritar aos ventos que estávamos nos afundando. Que ao invés de tiros, as pessoas deveriam trocar abraços.

E assim, nesse tempo cíclico, um não-tempo, a situação se passava como um mito. Aquilo não era uma história. Não era a história de um assalto ou de um assassinato. Era a dramatização de um ideal. Mesmo sendo um grande rejeitador de essencializações, não consigo não me perguntar: que mundo criamos? Com base em que? Acreditamos na democracia mas produzimos armas. Será isso mera hipocrisia ou a elevada consciência de nossa falibilidade? Algo rege mesmo nossa sociedade ou há apenas discursos vazios? Mais ainda, há mesmo discursos ou apenas fragmentos, falas perdidas que percorrem o tempo e o espaço em busca de outras com as quais se vincular, formando ligações que tem o poder de se auto validar? Existirá ou terá algum dia existido essa sociedade do intelecto? Sua menção apenas serviu para me fazer crescer longe da dureza do mundo vivido ou será que é o mundo vivido que se esqueceu de que sociedade foi parido?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

No meio do seu cu


Na minha adolescência, quando uma pessoa estava com raiva de outra, dizia "Vai se foder". Se a raiva era um pouco maior e já continha um quê de hostilidade, dizia "Vai tomar no cu" . Agora, se a situação tinha passado do limite do tolerável, se a pessoa estava disposta a encampar uma guerra, o que ela tinha que fazer era dizer com força e pausadamente "Vai ... tomar ... no .... meio ... do ... seu ... cu!". Imaginem só, no meio! A linguagem é mesmo muito instigante.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Dúkkulísur

Dúkkulísur

Ég finn óttann hríslast um mig

Niður bakið, svarti galdur
Langt, langt inni í huga
Hríslast straumur

Race niche

Ég finn óttann hríslast um mig
Niður bakið, svarti galdur
O langt
Niður bakið hríslast straumur

Bella niche

Ég finn óttann hríslast um mig
Svarti galdur
Langt, langt inni í huga
Hríslast straumur

Bella niche

aguarde carregar...

Tappi Tíkarrass
Í
Rokk Í Reykjavík !!!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Fragmento de diálogo entre Luca Tamborelli e Andrea Ciorata

"E então, meu amigo, o que você quer que eu te responda? Se eu pudesse, responderia sol, lua, espaço, universo. Responderia ar, água, pássaros, floresta. Se eu pudesse, responderia verde, meu amigo. Responderia verão, inverno, chuva, brisa. Responderia vida. Responderia tempo. Mas eu não posso. Eu poderia, no máximo, responder "sol", "lua" e assim por diante. Mas não é isso que gostaria de responder. Essas coisas entre aspas são representações, símbolos. E que diabos você iria querer com símbolos nessa hora? Eu te entendo. Foram os símbolos que te deixaram nesse estado. Por isso eu gostaria de te responder tudo isso. Um tudo novo, limpo de representações, ou melhor, à espera de sua representação. Quem sabe assim poderíamos pensar um mundo melhor. Mas eu não posso, você sabe. Sou apenas humano. Tudo o que posso responder são aspas. Algumas cheias, outras vazias, todas reticentes. E então, meu amigo, condenado a essa condição de representador, tolhido de toda construção sensível, que posso eu te responder, senão o silêncio?"

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Palavras ocas



Tem dias que as palavras não vêm. Ficam presas em algum lugar entre o desconforto e o desalento. Nesses dias a vontade é de puxá-las com os dedos e suavemente dobrá-las uma, duas, dez vezes até que tomem formas agradáveis ao olhar. Origami verbal, faria dobraduras em formato de gatinhos, flores, pássaros... Pois há dias em que o silêncio não basta e tampouco bastam as já velhas palavras, gastas pelo tempo, inutilizadas por uma nauseante repetição que insiste em esvaziá-las. De que valem palavras ocas?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sangue-frio


Sangue-frio


Sinto falta do que fazia antes. Criptografar em aparentemente banais ou enganosamente profundas mensagens aquilo que são simples devaneios. Coisas que não se diz, eu travisto. Mas a cada dia que passa leio menos, escrevo menos, penso menos. Em sentido contrário, cada vez mais me exijo mais apatia, mais silêncio, mais resignação. Não é fácil ver-se desintegrar lentamente, deixar-se suavemente ir com o vento. Se ontem era incapaz de matar uma inseto qualquer, hoje serei bem sucedido se for um bom queimador de carbono e ajudar a matar um planeta. Espero que passe logo. Farei-me de estúpido, se assim for preciso. Não ouvirei por meus ouvidos, não olharei por meus olhos. Vou me direcionar para dentro do si, último bastião da esperança. Lá onde algo ainda existe. Para além do ordinário, para além do possível.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Viver


o viajante diz que você não viveu se ainda não foi a cuzco
o nostálgico diz que vida de verdade só nos anos 50
o solitário diz que sexo é o que explica a vida
o sonhador diz que a vida é bela
o intelectual diz que a vida é só um conceito
o suicida diz que viver não vale o esforço
o religioso diz que a vida é uma dádiva
o trabalhador diz que viver é trabalhar
o jovem classe média diz que a vida é divertida


eu ouço

domingo, 5 de agosto de 2007

absurdamente


quando você vem
despeço-me todo
de todos os males
e sinto-me leve

esqueço de tudo
e tudo que ouço
são notas suaves
a brisa gostosa

mas quando acaba
acabo perdido
sem vez ou destino
um nada sozinho

quando você vai
eu junto meus cacos
as sobras da festa
e disso eu vivo

terça-feira, 31 de julho de 2007

















Envelheço na cidade.

























segunda-feira, 30 de julho de 2007

Poema sem título



Eu sou uma máquina.
Uma máquina de desferir ofensas.
Uma metralhadora.
Um ego mal-criado.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Algo


Que algo me tiene que despabilar,

Algo que despabilar




Los Tipitos - Algo

Ya no quiero esperar más

Tengo miedo que pasó
Algo inesperado el centro
Siempre es impredecible

Tengo miedo que pasó
Lo que no pedo decir
Si tan sólo cruzarás
La puerta en ese instante
Delante de este fuego
Que miro sin remedio
Hay una llama que te llama
Sin parar.

Una vela es para mí
Otra vela es pa'l Señor
Y pa' María Santísima
Que el Señor y María
Te cuiden también hoy
Que no estoy cerca y te dejé llevar por otros manos
Mirando como un niño
Dejé caer la arena tristemente entre
Los dedos ah, ah, ah.

Algo que viene y que pega y que duele,
Que algo me tiene que despabilar,
Algo que despabilar
La suerte va a cambiar
Hace cuánto no ganás.

Algo me tiene que despabilar, algo que despabilar
La suerte va a cambiar
Hace cuánto no ganás una.

domingo, 22 de julho de 2007

Erasure

Se você tem entre 20 e 26 anos deve ter visto isso sentado no sofá e tomando nescau.
Você não deve ter percebido como a música é legal.
Você não deve ter achado tudo exagerado, das cores ao tamanho da ombreira da xuxa.
Você não deve ter se divertido com a pronúncia de "Erasure" da apresentadora.

Enfim, você era feliz!

Eu, como todos que nasceram nos 80, tive uma infância em cores extravagantes, tive mullets, estojo com apontador-régua-termômetro-lupa e que ainda tocava música (uma, em 2 tons), tive caneta de 10 cores, régua-pulseira, vai-vem e outras mil porcarias importadas de taiwan. No meio desse lixo, como pude ser feliz? Pensava. Agora, vendo Erasure em pleno Xou da Xuxa, acho que consigo compreender porque minha geração apenas chegou muito perto de ser a mais estúpida de todos os tempos. Você nunca leu a minha cartinha, xuxa, mas obrigado pelo erasure.


sábado, 21 de julho de 2007

Jackson's Five em I Want You Back


Simplesmente fantástico!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Dia da antipatia gratuita


Ato 1 - Filmes

Não gosto nem um pouco de filmes com cachorros, com crianças, com irmãos gêmeos, com heróis, com ninjas, com inspetores de polícia, com times de futebol, com times de futebol americano, com times de baseball, com times de basquete, com pés-grandes, com espíritos das florestas, com cenas em portos, com cenas de kung fu. Odeio visceralmente, dentre estes, os de tipo misto, ou tipo combo. Cachorros com crianças, cachorros policiais, crianças gêmeas, gêmeos policiais, gêmeos ninjas, crianças ninjas, crianças com espíritos das florestas, times infantis de basquete, basebal, futebol ou futebol americano, policiais infantis, heróis infantis, heróis que lutam kung fu, cenas de policiais lutando kung fu, cenas de kung fu em portos, cenas de policiais lutando kung fu em portos, cenas de policiais lutando kung fu em portos auxiliados por duas crianças gêmeas ninjas.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Ai, a televisão - 1º bloco

Quem já teve o desprazer de assistir à transmissão de alguma partida de futebol – e quem nunca o teve? - sabe como essa experiência pode ser extremamente desconfortável. Um jogo de futebol é uma coisa exageradamente simples. Para alguém que conheça as regras básicas do esporte, qualquer partida é auto-explicativa. Jamais vai acontecer de, no meio do jogo, os times misturarem os jogadores, de colocarem uma “bola-extra” ou de o juiz parar a partida para ir tomar uma cervejinha e comer um risóles de carne no boteco da esquina. Ademais, se acontecer, todos sabem que é excepcional, irregular, não vale. Igualmente, saber o nome do jogador com a bola em nada interfere na compreensão do lance, também pouco importa saber que o goleiro de tal time é o “mais vazado” do campeonato ou se a mãe de outro jogador se chama Dália, tem 59 anos, é dona de uma pastelaria na baixada fluminense e que só assiste aos jogos do filho com uma imagem de são jorge na bolsa (a mesma há 20 anos). O que quero dizer é que ninguém precisa de ajuda pra assistir a um jogo de futebol. Narrá-lo e ainda comentá-lo é um exercício de multiplicação dos pães informativo. É espremer o que a realidade tem de mais óbvia, fazê-la render. Que diabos, alguém precisa que uma pessoa – geralmente bastante desagradável – diga que “fulano chutou a bola” quando seus próprios olhos tiveram a dadivosa chance de fazer essa mesma observação?! É preciso que alguém diga, grite, grite loucamente “gol” quando isso é evidente? O que eles estão querendo? Atingir algum nível profundo da realidade encoberto sobre esse nível enganador da aparência? Acabar com o fetichismo do jogo de futebol? Longe disso. Independente de todas as interpretações mais ou menos conspiratórias, que julgo válidas, acredito que “ao nível de sua apresentação” esse tipo de transmissão é o aprofundamento do banal, o ridículo de óbvio meticulosamente exposto. Evidentemente, poderíamos ir além, afinal, o show de horrores continua quando, ao fim do jogo, os jornalistas correm para o gramado para que os jogadores façam aqueles perspicazes comentários como “nosso time teve a felicidade de marcar um gol no primeiro tempo mas no fim do jogo tivemos a infelicidade de tomar um gol e saimos com um empate que não é tão bom como uma vitória”. Aqueles que concatenam três frases sem erros graves de gramática viram comentaristas após se aposentarem. Enfim...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Queira, por favor, ter a bondade de só ler este texto assaz longo após ter lido o anterior, sobre o nobre Carlos.

* * *

Discurso sobre a estupidez voluntária

A pior parte de fazer promessas é ter de cumpri-las. Nisso gostaria de ser como o meu avô, que prometia os céus, quando muitas vezes não podia dar sequer um pedacinho aqui da terra. Não fazia por maldade. Seu desejo de presentear, de ajudar, era sincero. Gosto de acreditar que ele prometia pelo prazer de ver a felicidade nos olhos das pessoas por quem tanto carinho nutria. Este dom, o de conseguir fazer a promessa ser mais importante e mais efetiva que a realização, porém, é para poucos. Ainda não sou capaz de dizer se o tenho. Talvez sim, talvez não. O fato é que após quase dois meses de uma promessa de reformulação do blog, não estou me sentindo satisfeito nem vendo alegria nos olhos das poucas mas valiosas pessoas que por isso ficaram esperando. Sinto-me constrangido, isso sim.

Ok, vamos lá. Abramos a caixa de pandora e deixemos que todos os males que ocupam esta pobre alma que escreve vagueiem mundo afora. Ocasionalmente, logo advirto, algum deles poderão atingir ao leitor. Nada, porém, acontecerá de muito grave. Coleciono tormentos a vida toda e nem por isso me tornei um ser abominável (é, se você me tem como um ser abominável, não continue lendo). Talvez expostas as minhas inquietações possamos fazer uma operação de exorcismo amador, ou quem sabe uma sessão de terapia do abraço, que me permita enfim levar adiante esse projetinho virtual.

Em primeiro lugar, havia decidido parar completamente de publicar aqui textos ficcionais, mini-contos, ensaínhos, frescurinhas e qui-qui-qui. O motivo, dito em bom português brasileiro, é que eles são ruins. Tudo bem, sei que muitos dirão o contrário, que são bons, que devo continuar escrevendo e outras mil frases de incentivo. Ora, todos os que passam por aqui são amigos ou parentes. Irão me aplaudir mesmo se eu dançar meu-pintinho-amarelinho de cueca. Acontece que, pelo menos nesse momento, eu não levo jeito pra coisa. Posso até dominar razoavelmente a língua. Posso até ter uma imaginação engraçadinha. Mas no fim das contas, não tenho conseguido juntar ambas as coisas numa produção interessante. Também pudera, um cara totalmente negligente com esse tipo de literatura não poderia dar um grande escritor. Mas, aviso, sequem suas lágrimas. Isso é temporário (farei uma oficina de composição de textos ficcionais – nas férias).

Isso tudo não vale para as poesias. Pela simples razão de achar que “poesia” é uma categoria residual onde ainda há muito espaço para a inspiração e a liberdade de criação. Claro, há aqueles que também têm a poesia como uma ciência exata, inútil se incapaz de ser mensurada numa escala de qualidade. Esse tipo de gente há pra tudo no mundo. Entre no Google e procure sobre a melhor maneira de apertar as teclas do telefone. Provavelmente haverá, em algum lugar desse vasto mundinho, um debate refinadíssimo, cheio de protuberâncias e reentrâncias, sobre o assunto. Deixem-nos lá com suas definições e deixem-me cá com minha representação ainda que naïf de poesia. Isso era o segundo lugar.

Deixando de lado as coisas já existentes, discutamos bem rapidinho as prospecções para o futuro (com toda sua redundância). Eu tinha planejado começar a postar aqui coisas mais afinadas com o que se pensa hoje sobre “blog”. Antes que eu me esqueça, esse é o terceiro lugar. Pensava em escrever ensaios de opinião sobre coisas “que estão aí”, debates públicos sobre temas variados, indo de cultura política a política cultural. Essa é uma coisa que eu sempre fiz em todo lugar, tendo me rendido inclusive o prêmio nunca revelado de o chato dos bares. É, falar de problemas raciais ou de filmes espanhóis quando todos querem falar sobre suas aventuras no puteiro não garante uma boa imagem (apesar da freqüente proximidade entre os dois últimos). De qualquer forma, como este blog é algo que está a disposição e pode ser visitado espontaneamente a qualquer momento, inclusive quando não se está bêbado, acredito que possa ser uma boa válvula de escape escrever sobre essas coisas aqui. De repente até começo a falar de futebol nas noites de sábado.

Em quarto lugar está outra coisa que gostaria muito de fazer. Essa, porém, não está diretamente ligada a uma marca de formação “profissional”, como a anterior. Está mais relacionada a um traço da minha formação pessoal. Muitos sabem do meu gosto por música. Já postei, inclusive, algumas letras de músicas e comentários a respeito. Tinha em mente aprofundar essas investidas, apresentando bandas, discos e músicas que, acredito, não são conhecidas por todos os que por aqui passam. Também havia pensado em fazer algo parecido com cinema. Aviso, porém, que não sou cinéfilo. Não me concentraria em filmografias nem em aspectos técnicos das obras. Meu interesse era mais fazer “leituras comentadas” sobre alguns filmes que me despertassem interesse.

Passemos agora aos grandes impasses. Apesar de as idéias aqui apresentadas não serem nem um pouco originais, pelo contrário, são apenas a aproximação com um modelo já convencional de se fazer um blog – inspiradas mesmo na observação “de campo” – elas são pra mim de difícil execução. Primeiro, elas atingem mortalmente um senso de ridículo “sempre alerta” que mora em mim. Esse senso de ridículo é mau-humorado, neurótico e perfeccionista. Reage com violência a “grandes idéias” e é extremamente cioso de sua imagem. Detesta fazer mal qualquer coisa que alguém, em algum lugar do mundo, faça bem. É, em suma, um chato. A minha felicidade é que ele é também alcoólatra e algo fanfarrão, distrai-se com coisinhas para brincar. Assim, o primeiro movimento que devo fazer para executar essas simplórias idéias é o de alimentar os vícios desse pedaço de mim que surgiu como o dividendo da adolescência. Farei isso, farei. Segundo, a aplicação das idéias exigirá de mim uma

disciplina que jamais tive. Esse jamais é jamaaaaais, nuuuuuunca. Isso é um desafio, um belo desafio. O terceiro e talvez maior macaco gordo sobre as minhas costas é uma coisa bem simples. A constatação de que a imagem que tenho de blogueiros, principalmente os de sucesso, é a de grandes imbecis, fenômenos da era midiática no que ela tem de pior (pois quero crer que ela tem algo de “melhor”), o culto à nulidade. Parecem-me, basicamente, antas antenadas que escrevem sem pensar. Esse medo é diferente do tal senso de ridículo pois não diz respeito a fazer algo mal, justo o contrário, é um medo de fazer muito bem algo que me desagrada.

Então, como esse texto se auto-destruirá em 300 caracteres, deixo por aqui minhas angústias. Prometo que é a última vez que prometo a mim mesmo que jamais voltarei a escrever sobre mim no blog. Não sei se o farei. Peço, por fim, a você, querido leitor ou leitora, que me acompanhou até aqui, que torça, ore, reze, peça a são mindinho, para que eu entorpeça esse monstrinho que me poda, que eu consiga me disciplinar e que, se invevitável for que eu me torne mais uma anta midiática, que ao menos eu não perceba isso antes do tempo de escrever meia dúzia de palavras. No fim das contas, continuamos no vale fértil das promessas. =)

terça-feira, 10 de julho de 2007

A morte de Carlos


Morava em minha casa uma pessoa que muito eu estimava. Estava sempre disposto a ajudar, solícito mesmo. Nunca o vi de mau-humor. Ainda quando acordado às 08 da manhã num domingo, demonstrava uma simpatia que fazia com que dirigir qualquer tipo de ofensa ou mesmo palavra mais rígida a ele se tornasse algo digno de vergonha. Realmente um grande ser humano. Era o tipo de pessoa com quem se pode contar. A bem da verdade, meu primo Carlos era daqueles que se destacam nos momentos difíceis. Aquela pessoa que puxa para si a responsabilidade de tocar o barco, custe o que custar. Jamais poderei esquecer os momentos em que, prestes a perder as esperanças, tive em Carlos uma mão amiga. Mais que isso. Como fiel companheiro, em inúmeras vezes ele me emprestou também seus ouvidos e quando percebia que o silêncio seria melhor pra mim, permitia que eu me calasse e falava em meu nome.

Tudo isso contrastava, no entanto, com o comportamento de Carlos nos momentos menos difíceis. Se outrora ele parecia ser o centro das atenções, como uma daquelas grandes e gordas mães italianas que povoam nossa imaginação, não deixando jamais “a peteca cair”, como gostava de dizer, quando a tempestade se dissipava, Carlos parecia também se dissipar. Durante algum tempo ainda permanecia em destaque, como que pra conferir se a melhora era permanente ou se era aquela aparente melhora que doentes terminais normalmente têm na véspera da morte (para que possam se despedir, dizem alguns). Confirmada a estabilidade, meu primo começava um processo não muito demorado de diluição de seu papel no cotidiano harmonizado. Tal como um ditador romano eleito pelos cônsules para dar cabo a um conflito, findo o problema, dissolvia-se sua autoridade.

Carlos, nos tempos mais recentes, andava muito ausente. Nos raros momentos em que aparecia, havia algo em seu olhar além da habitual oferta de conforto. Ele parecia saber alguma coisa, algo não muito bom sobre o seu futuro. Hesitava em falar. Seria a maior desonra trazer o menor desassossego, a menor sombra sobre o sol de verão das vacas gordas. Numa das últimas vezes que o vi, deixou escapar que já não fazia planos, que talvez fosse melhor começar denovo. A partir daí não tive dúvidas. Carlos estava se despedindo. Jamais me falaria isso, obviamente. Sabia que eu pediria para que ficasse e que não ousaria recusar tal pedido (como sempre, antecipava-se ao pedido, oferecendo-se voluntariamente).

Apesar de meu grande apreço, aceitei sua decisão. Ele precisava ser útil, senão ali, em qualquer outro lugar. Carlos sempre foi muito espiritualizado. Mantinha, na verdade, um acosmicismo, um amor universal e uma crença na completude. Cria que havia um lugar para tudo e para todos. Convicto de que seu lugar não era mais em minha companhia, partiu. Deixou comigo apenas uma sincera gratidão e o ensinamento de que só existe um problema: o desajuste. Carlos não tinha posses.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Projetos

Nos últimos dias, devido à mudança repentina, embora esperada, da minha rotina que por sua vez é o prelúdio de uma vindoura mudança ainda maior, e ainda mais esperada, tenho pensado muito sobre o blog. O fato de o último post não ter rendido comentário algum, muito embora eu o tenha pensado como uma bela sacada, a la Romário, associado ao fato de eu não ter controle algum sobre a frequência das visitas, me dão a impressão de que este blog, como todos os meus outros lances geniais, está morrendo antes de nascer. Se fosse o caso só lamentaria a triste perda para a humanidade.

No entanto, ao invés de fechar as portas, botar as cadeiras viradas viradas sobre as mesas, desligar a música e esperar sentado e com sono que os últimos clientes – bêbados demais para se sentirem constrangidos – saiam do recinto, tenho pensado em transformar esse espaço num empreendimento mais rentável, do ponto de vista da minha satisfação com sua manutenção. Trocar o piso, lavar as cortinas, sujar os móveis e, é claro, derrubar algumas paredes, deixando o ambiente mais agradável e a comunicação com o mundo de fora mais intensa.

Não vou negar, o que me fez ter essas idéias foi uma passeada pela assim chamada “blogosfera”, termo que me causa arrépios – assim, com o acento no e. Pra começar, entre os 20 blogs melhor ranqueados no Brasil, algo como 15 – ok, posititivas, eu não contei, estou chutando – versam sobre tecnologia, internet, mundo geek, cibernáutica e congêneres. Calma! Não vou começar a postar sobre as novidades do mercado de microprocessadores ou sobre as últimas aquisições do Google. Na verdade, é exatamente o contrário. Nada contra, mas no nosso canto mudam-se as cores das paredes, o estofado das cadeiras e (até mesmo, vejam só) a marca da cerveja, mas na música ninguém toca, se me permitem a infame piadinha.

Sim, sim, sim. Continuaremos fazendo por aqui o caminho rock - indie rock - indie pop – pop. Evidentemente mais na inspiração do que nos temas, pois, é claro, enquanto a música toca, não precisamos conversar apenas sobre ela. E a proposta é exatamente essa: conversar. Chega de monólogo. Nada de pedestais, torres de marfim ou, mais adequadamente, nada de bolhas. Minha idéia é básica e primordial: angariar interlocutores. Pessoas que falam, balbuciam, gesticulam ou mesmo que esperneiem batendo as mãos contra a mesa, os pés contra o chão.

É assim. As idéias de mudanças aqui descritas acompanham as mudanças das minhas idéias. Deixamos a revolução, entramos na hibridação, na mistura, na, algo aparente, (con)fusão. E percebam só as permanências: contino com essa maldita linguagem vaga, que apenas prediz. Muitos sabem, pra mim a escrita não deve ser conclusiva e “mensagista” e sim aberta e vetorial. De qualquer forma, essa pequena invernada me fez perceber que a qualidade textual não é nem está perto de ser o primeiro requisito para o sucesso de um blog, muito embora alguns proponham para si tal virtude e outros, poucos, realmente a tenham. Porém, a idéia de que “não importa o chop, o que importa é que aqui ele é servido nas melhores canecas” também não me agrada, tampouco a idéia de ser visto para ser lembrado. Desafios.

No frigir dos ovos, não estou criticando meus leitores, que com seu eventual sepulcral silêncio me dão a sensação de conforto. Ando pelado pelo blog. As mudanças que virão, ainda não as revelo. Talvez por não as ter já prontas, talvez por ainda não estar decidido a fazê-las. Afinal, como tem sido desde o ínicio, nada acontecerá se este post for mais um exercício público de linguagem, organização de idéias ou diletantismo puro, não é verdade? No entanto, a esse respeito não posso fazer muito mais que torcer.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Homenagem a Mayakovsky


Prezados Senhores!
Dizem que, em algum lugar
- parece que na Rússia-,
há um homem feliz!

quarta-feira, 28 de março de 2007

doces

minhas palavras não são doces
as que eram
fermentaram
bebi;
minhas palavras não são tristes
as que eram
se revoltaram
perdi;
minhas palavras não são belas
as que eram
enrugaram
ri;
minhas palavras não são minhas
as que eram
...
vivi!

sábado, 24 de março de 2007

terminal


que ótimo, agora tu também vais encolher
a imagem
tremer
meu monitor, que lindo
te compreendi quando
desde há um ano
começaste com tuas viagens cromáticas
primeiro verde
azul
e... vermelho
onde está o vermelho?
no começo uns tapinhas resolviam
voltavas pro teu normal
ou
pra como te espero
mas com o tempo decaístes
e se há pouco levavas porradas pra te arrumar
agora
tu tremes e te encolhe no mínimo toque?
oh
serei eu o culpado por teus males?
não te ouvi o bastante?
ah
não me faça destas,
monitor
sabes qual será teu destino não sabes?
sabes que minha lealdade a ti é muito frágil
e
confesso
teus ultimos ataques
de tremer e encolher
não me causaram simpatia
pois é bem agora, que preciso de ti
que tu te acovardas?
quer me fazer esquecer das cores
e formas
do mundo?
quer fazer-me ao teu modo
tuas cores, teu tudo?
apunhale-me agora
tal qual brutus
sim
até tu
mas não espere que terei compaixão
pelos anos de dedicação
não verás em mim
nenuma
nenhuma comiseração por seu estado terminal
nada farei
que definhe!
tu
que me destes as costas logo agora
que vá!
pois ficarei
muito bem
sem ti
se assim for

terça-feira, 6 de março de 2007

a dívida

há uma dívida
que eu pretendo cobrar
de todos os tipos de patifes
vermes e estúpidos
que me roubam a cada dia
o lirismo do olhar
cortam-me a garganta
silenciam
minha capacidade de pensar
para além dessa parede
e de números, de valores
de mentiras
que embaralham minhas sensações
tornam-me estúpido
alimentam meus sentidos mais banais
fazem de mim subproduto
de capacidades limitadas
que me seguram pelos braços
e pernas
e principalmente pelo estômago
tomem, seres medíocres!
esbaldem-se com meu rancor
que tanto cultivaram
com dedicação inigualável
logo, logo ocorrerá
que retornarei de vossos ventres
em polimorfos registros incandescentes
e de mim, só fumaça sobrará
nesses teus pulmões a respirar
e te dominarei
e te farei tão mal
pois a divida que eu pretendo cobrar
é o preço dos olhos secos pelo sol
cujo olhar tão desbotado não vê os tons
que fariam da vida mais amena
dos ouvidos surdos
para os sons mais delicados
atordoados que estão
por ruídos ininterruptos
do paladar já viciado
ao doce que encobre a vida
de satisfações compensatórias
e ao sal que nos faz crer
que há mais lá do que o que lá está
do tato já dormente
anestesiado pelo cansaço
anulado pelo desejo de anulação
do olfato há tanto perdido
incapaz de diferenciar
os odores mais delicados
parecem todos iguais ou diferentes
ou atrarem ou repelem
dos sentimentos mais ternos desprezados
pisados, ridicularizados, esquecidos
que nem sequer mais os ouço
dilacerados que foram pela ânsia
da superação de um estado indesejado
dos prazeres mais humildes esquecidos
em nome de ridículos
prazeres orgiásticos
que corrompem a existência
e a fazem função de uma ilusão
dos pensamentos atrofiados
pelas imagens e sons que pulam
e gritam, berram, se movem, te encostam
te engolem, mastigam, vomitam e comem
e quando tento balbuciar uma idéia
repito mimeticamente tuas ordens
de parecer ridículo, reproduzindo o óbvio
então, por tudo e muito mais
há uma dívida que eu pretendo cobrar
uma dívida de vida
há uma vida que eu pretendo cobrar
de todos os seres que me reduzem a pó
mas que hão de me pagar
uma hora
num lugar
ainda que daqui a muito
ainda que daqui de muito longe
hão todos de me pagar

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Poema sem título


preciso de ar, preciso de espaço
para me encontrar
no tempo
de um segundo até aqui
por onde tanto percorri?
se meus ossos doem
e as gotas correm por dentro
o que há de mim?
que possa dizer
assim
e fim

meus olhos trilham
todos os caminhos contemplados
e assim
preso num insólito presente irrevogável
penso bem alto
enquanto lembro
de passados e futuros pretendidos
amalgamados num suspiro de exilio
e percebo que errei
eu me atrasei num encontro comigo
primeiro cheguei, depois me toquei
e enquanto esperava
com a linha bem solta
deixando-me ao largo
não sei o que houve, tudo mudou
não me encontrei a tempo de realizar meus planos

deve ter sido o som
ou o ar dessas novas paragens
e enquanto um universo se expande em mim
meu corpo é mais encaixotado
sinto-me amigo íntimo
de todos os deuses, de todos os mundos, de todos os povos
mas vejo-me miserável
rastejante a implorar a própria vida
cem mil sábios me acompanham
testemunham meu fracasso
a mais forte legião, dos mais bravos homens, é leal a mim
e eu sirvo de alvo às flechas inimigas
encerrado numa sala de espelhos
com uma só janela que parece mil
eu me debato
e grito
eu já não caibo mais em mim, eu já não caibo mais em mim
e penso
por quanto tempo meus amigos deuses, sábios e guerreiros esperarão por mim?
por quanto tempo estarei a disposição de algum fim?

incrustado nessa pedra
vejo o sol, a chuva, a noite
quando, enfim, se encerrarão as apostas?

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Peço desculpas a todos que acreditaram na minha existência.
Eu também me enganei.