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eu sou a frase interrompida na metade e nunca mais continuada
sou a palavra envergonhada
esquecida, proibida ou desdenhada
eu sou o delírio do quase-sono, tão surreal e tão volátil
sou o segundo de distração
que dura horas
eu sou o medo que eu sinto a todo instante de ter esquecido
uma chave, um recado, uma vida
eu sou o cansaço que me domina ao fim do dia
sou a raiva, o ódio e o desdém
eu sou o vício mais secreto que eu tenho
que me alivia, que me domina e me corrompe
eu sou a humilhação de quem é mal julgado
não me defendo, não me explico, eu me retiro
eu sou o pensamento que vai longe, muito longe, e que se perde
sou a confusão que faço disso
eu sou o sono que me trai diariamente
sou a fraqueza
de quem não faz o que queria
eu sou o erro mais singelo que eu cometo
sou também o mais grotesco e o mais fatal
eu sou um momento perdido no tempo
sou um hiato, parado, inútil
eu sou a mistura que eu faço das coisas
sou o conceito que eu crio pra mim
sou o prazer que eu sinto com isso
eu sou a busca que eu faço há anos
sou essa estranha linguagem estética, mística e incerta
eu sou a vida ascética que planejo pra mim
mas mais do que isso
sou o fracasso
pois sou a vida mundana que eu tenho
eu sou o futuro que tenho à frente
uma parede que me fecha os olhos
um atalho que me prende as pernas
eu sou o sonho da queda
sou a vertigem, a reminiscência mais animal, sou meu instinto
eu sou o ato falho
eu sou a deixa que e a vida me deu e que eu deixei passar
e o que eu não sou
o resto
disso tudo que eu sou
são só bobagens
que eu esqueci de esquecer
ou que eu errei errado
pois pra mim, não sou o que sou pros outros nem o que os outros são pra mim
não há virtudes
sou só a infinitésima parte de um projeto irrealizável
sou apenas mais uma tentativa
sou tudo aquilo que me torne humano
Olha eu aqui de novo pra te dizer que você tem muita sensibilidade com as palavras, parabens.
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