quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um sonho

Sempre quis ter um bar. Manter bigode, cultivar barriga, arregaçar as mangas e viver com um paninho sujo no ombro, sempre pronto pra dar uma limpada não muito generosa no que quer que seja. Já trabalhei em multinacional, quase engravatado, dava conselhos, ordens, recebidos e tinha rês-estagiários. Aprendi a desossar codorna. Na juventude fui preso, levei porrada da polícia e panfletei pelo fim de alguma coisa. Não cheguei a ser infeliz, mas não tinha lá muito tesão. Por isso - ou a despeito disso - me casei três vezes e não tive filhos. Nas separações, dei mais do que pediram. Não queria construir uma catedral no meio do brejo. Tentei conhecer o mundo, mas fui assaltado na Nicarágua e passei a achar a idéia ridícula e cansativa. Sempre dormi vendo a national geographic e, de mais a mais, não queria ter um café em Paris. Meu sonho, o único, era um bar com expositor de fórmica, vina em conserva e duas mesas velhas de sinuca. Eu serviria cervejas sem sorrisos nem grosserias. 75 centavos a ficha. Não faria promoções nem descontos. A música do rádio. Palito de dente. Comprei um bar falido e fui feliz por não ter filhos pra me acusarem de ter desperdiçado a herança deles. Não reformei nada. Não abri. Passei seis meses tomando o estoque, comendo as vinas, as cebolas em conserva e depois os amendoins. Passava os dias passando o pano nas mesas. Só servia a mim. Quando acabaram as balas do troco, não aguentei e saí. Que derrota, não morrer. Estou pensando em abrir.

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