Estou encolhido num canto e meu coração bate como o de uma galinha. Espremido na esquina onde um rachado muro de concreto velho encontra a parede chapiscada de uma garagem estranha. Ouço o silêncio das televisões que gritam a novela das oito como que me jogando na cara que o dia morreu e me mandando dormir. No céu, meia dúzia de estrelas me olham com angústia. Estas estrelas que me viram nascer e que, malditas, me virão morrer; parecem rir da patética condenação ao patético que é ser inevitavelmente sozinho e ter que se esforçar pra não se mostrar uma evidente repetição. Estrelas que me viram nascer e que me virão morrer, que viram os homens antes de mim nascerem, até o primeiro, e testemunharão os próximos morrerem, até o último.
Carrego numa mão um pedaço de pedra, talvez um tijolo ou sobra de concreto. Seguro com violência, como se a pedra fosse a minha coragem e fosse um bicho arisco que não aceita ser preso. Sou uma criança, tenho os pés descalços e uma camiseta surrada. Tremo de frio pra não achar que é de medo. Mais uma vez, o silêncio, agora o dos passos de algum estranho caminhando junto ao muro. Meu coração não quer se calar e tenho que fechar a boca para que não escape, ele também. Num pulo, seguro o cimo quase com a ponta dos dedos, pra me levantar, vou dobrando os cotovelos e ralando os braços, o peito, a cara. Vejo que é uma pessoa, só poderia ser uma pessoa, mas não quero saber quem é. Estamos no breu, as estrelas ridículas são testemunhas tão passivas que não podem sequer iluminar a cena. Estou resoluto, em cima do muro. Atiro a pedra com violência, ouço um grito de dor, jogo-me ao chão como se não fosse eu, mas um saco de lixo fedido. Corro sem pensar e sem praonde, como um anti-hermes silencioso.
Mermão você já escreveu algum livro? Se escreveu me passa o nome, se não escreveu pense em escrever! Rsrsrsrs
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