Quando todos acham que a internet não pode mais render uma boa surpresa, aparece algo que prolonga a validade da rede. Na semana que passou o mundo conheceu a simpática gordinha de monocêlha Susan Boyle, que foi arremessada de sua prosaica vida num vilarejo do interior da Escócia para o monitor de mais de uma centena de milhões de pessoas no mundo todo. E a mulher realmente tem talento. Voz fenomenal, simplicidade e a música que canta no video que circula parece ter sido feito pra ela (é um trecho do musical Les Miserables, outro grande sucesso, adaptação da obra de Victor Hugo, falando sobre sonhos de juventude mortos pela vida.) Mas infelizmente o mundo que permite que esse fenômeno aconteça (tudo ocorreu num programa do tipo American Idol do Reino Unido (aliás, do mesmo produtor), ou o nosso Ídolos), que se descubra o talento monumental na feia embalagem (como tem sido sempre o tom das resenhas e comentários a respeito) é o mundo que se apropriará destrutivamente desta simples mulher. Grandes estrelas midiáticas não pertencem a si próprias, e isso é ainda mais verdade para estrelas instantâneas. Enquanto o mundo dá olá à Susan Boyle, aquela Susan Boyle dá adeus ao mundo.
Isso não é apenas - afinal talvez também o seja - um olhar essencialista. O que encantou a mim e ao mundo não foi a simplesmente o talento musical da mulher exibido no video. Hoje, o talento está por todo lado. Aliás, já há talento de sobra nas interpretes da mesma música na Broadway. O que nos encantou da Susan Boyle foi aquilo que não vimos - mas imaginamos. A inocência já há tanto perdida, os desejos, a imposição da vida ordinária sobre nossos ridículos sonhos, a resignação, a persistência e enfim, a realização. Foi também a mensagem que nos chegou de que em algum lugar no mundo - talvez saindo da boca menos esperada - ainda existe algo que corresponde ao mesmo tempo aos nossos desejos de simplicidade, de originalidade, de humildade, de puros sentimentos transformados em arte; e também aos exigentes parâmetros de qualidade do nosso mundo (vamos lembrar das milhões de pessoas igualmente simples humilhadas neste e em programas congeneres por não atenderem a este elevado padrão de qualidade), parâmetros opressivamente técnicos. Tudo isso se acabará cedo ou tarde, e não veremos mais em Susan a mulher (e os sonhos, a inocência, etc) que vimos em I Dreamed A Dream. Sem dúvida podemos dizer que o sonho está se realizando. É bem possível que Susan seja feliz. Quanto a nós, continuaremos pagando nosso suplício eterno: cavar fundo a alma humana, encontrar o mais precioso diamante apenas pelo prazer de desfazê-lo em mil pedaços. Somos doentes. Se ainda duviam, leiam:
Isso não é apenas - afinal talvez também o seja - um olhar essencialista. O que encantou a mim e ao mundo não foi a simplesmente o talento musical da mulher exibido no video. Hoje, o talento está por todo lado. Aliás, já há talento de sobra nas interpretes da mesma música na Broadway. O que nos encantou da Susan Boyle foi aquilo que não vimos - mas imaginamos. A inocência já há tanto perdida, os desejos, a imposição da vida ordinária sobre nossos ridículos sonhos, a resignação, a persistência e enfim, a realização. Foi também a mensagem que nos chegou de que em algum lugar no mundo - talvez saindo da boca menos esperada - ainda existe algo que corresponde ao mesmo tempo aos nossos desejos de simplicidade, de originalidade, de humildade, de puros sentimentos transformados em arte; e também aos exigentes parâmetros de qualidade do nosso mundo (vamos lembrar das milhões de pessoas igualmente simples humilhadas neste e em programas congeneres por não atenderem a este elevado padrão de qualidade), parâmetros opressivamente técnicos. Tudo isso se acabará cedo ou tarde, e não veremos mais em Susan a mulher (e os sonhos, a inocência, etc) que vimos em I Dreamed A Dream. Sem dúvida podemos dizer que o sonho está se realizando. É bem possível que Susan seja feliz. Quanto a nós, continuaremos pagando nosso suplício eterno: cavar fundo a alma humana, encontrar o mais precioso diamante apenas pelo prazer de desfazê-lo em mil pedaços. Somos doentes. Se ainda duviam, leiam:
"Simon [produtor do Britain's Got Talent, o programa de TV] pode ver o potencial lucrativo de Susan. Ele não vislumbra apenas o lançamento de um disco dela na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas também um filme e produtos de merchandising", confidenciou ao jornal "Daily Star" uma fonte próxima a Cowell.
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/04/22/susan-boyle-pode-ter-sua-vida-transformada-em-filme-755375125.asp
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